Nos olhos dela ele via o próprio sorriso e tudo ficava cheio de vida. Em seus braços o jovem rapaz esquecia todos os problemas de sua vida tumultuada. Um dia tudo terminaria para que ele pudesse ficar ao lado de sua amada, era sua esperança, seu anseio, seu sonho.
Ele saiu cedo da cama. Era um dia frio e triste, mas estava animado.
- Já vai amor? – A prostituta ruiva levantou a cabeça em sinal de desaprovação.

- Sim, senhora! Adivinhe quem vai ser um dos advogados no caso mais cobiçado do ano?! – Ele sorria enquanto vestia novamente suas roupas apressado e cuidadoso.

- Odeio quando você me chama de senhora, Jack! Então vá! Estarei torcendo por você.– Ela parecia mal humorada com o senso responsável do jovem. Odiava quando Jack fazia de seu trabalho uma ambição sem limites.

- Sophy! Não fique de mau humor, nos encontraremos hoje a noite. Que tal um jantar?

- Eu não vou cozinhar Jack. Estou cansada de não poder sair com você! Quero jantar fora, quero exibir a todos o nosso amor! – Sophia levantou-se da cama e jogou os seus cabelos ruivos para o lado, sua camisola provocante que sempre deixava Jack sem fôlego, hoje era apenas uma distração.

- Eu sei! Eu também estou cansado! Mas, se eu ganhar esse caso, eu poderei subir na minha carreira! Fique feliz por nós, se eu ganhar, vamos comemorar com um jantar no lugar mais caro de Londres! – Jack falava enquanto colocava o lustroso sapato.

- Promete?

- Prometo.

Jack Thomas, era um respeitado advogado. Poucos anos de experiência para tanto talento, veio de baixo – As pessoas costumavam dizer muito sobre ele. Muito ativo e bem humorado. Nunca perdeu um só caso desde que começou. Thomas entrou em seu escritório afugentando alguns jornalistas. Provável que já estivesse ficando famoso. Teve um bom começo e agora estava no caso dito o mais importante de Londres. O caso ‘Martin’ envolvia vários suspeitos de formarem uma enorme quadrilha, o trabalho de Jack era simples: Defender um dos acusados, mas ele era especial. Martin foi o único que aceitou abrir o bico a troco de uma pena menor. A maioria dos criminosos o queria morto, Jack sabia que era perigoso, mas o perigo o deixava mais animado do que nunca. Ao entrar no próprio escritório viu que seu cliente já havia chegado, não era costumeiro alguém chegar antes dele. Martim era velho e começara a ficar careca, tinha um bigode branco e grosso, que combinava com os poucos cabelos que ainda tinham restado.

- Muito bem, Senhor Martin, eu sou Jack Thomas. – Os dois apertaram as mãos.

- Sei bem quem você é garoto, está ficando bem requisitado.

- Obrigado senhor, gostaria de beber algo? – Ofereceu Jack, educado como sempre.

- Não rapaz. Vamos direto aos negócios, amanhã é o julgamento e você sabe que vão me comer vivo com acusaçõe!

- O senhor se julga inocente, Senhor Martin? – Perguntou o advogado meio descrente.

- Não sou idiota, veja bem a minha situação, se estou marcado pra morrer quero que todos eles fiquem na cadeia. É simples, só vou te pedir uma coisa: Negocie minha pena. – Martin franziu a testa envelhecida e deixou Jack totalmente surpreso. Era a primeira vez que alguém não se dizia inocente e só queria negociar a pena.

- Certo... Vou fazer o possível, Senhor Martin.

- Eu preciso ir rapaz, tenho um compromisso. Examine bem o caso! Mas não se esqueça: cuidado onde pisa! São serpentes prontas para nos devorar, todos eles. – O velho senhor deixou o escritório e Jack começou a examinar o caso enquanto bebia um copo de uísque com gelo. E agora? – Pensou. Defender um cliente que não queria ser defendido seria fácil, mas negociar a pena seria muito mais complicado, teria que ser quase um promotor, ajudar Martin a acusar seus antigos “companheiros”. Jack Ficou horas a fio ali, examinando mais de 30 criminosos e suspeitos, olhou as horas e concluiu que estava tarde. Tomou o ultimo gole de sua bebida e quase se engasgou, o telefone o assustou ao tocar.

- Jack falando.

- Jack, sou eu Sophy! Preciso te ver ainda hoje... – A moça falava com voz séria e preocupada.

- Aconteceu alguma coisa? – Começou a se preocupar, qual seria da ligação?

- Venha a minha casa Jack, precisamos conversar. – Ele nem mesmo teve tempo de responder, mesmo alcoolizado sabia que algo sério acontecera. Sophia não era de falar sério nunca, era uma moça de caprichos e risadas. Guardou seus papéis e saiu, ao sair disse a sua assistente:

- Eu preciso resolver uns assuntos, cuide de tudo aqui, Lizzie. – Falava enquanto pegava o paletó e vestia.

- Certo. Boa sorte Jack. – Lizzie nem mesmo ergueu a cabeça para responder, estava concentrada nos papéis que lia.
Ao chegar a casa de Sophia, Jack abriu a porta com a chave que ela lhe dera anteriomente. A casa se encontrava escura e sombria, não era típico de Sophia não o esperar na sala com um beijo apaixonado de boas vindas.

- Sophy? – Chamou baixinho, o advogado passou pela sala e chegou ao quarto, ao abrir a porta viu uma cena que fez seu coração desabar: Sophia estava no chão ao lado da cama, vários papéis se encontravam picados e revirados em cima do corpo ensangüentado de sua amada.

- Ah meu deus! Sophy! – Jack correu até o corpo, ajoelhou-se no chão cheio de sangue e retirou os papéis de cima do corpo ignorando-os, segurou a cabeça do que antes fora sua amada. Ele estava em choque, não sabia o que fazer. Levantou-se e foi até o telefone, o segurou com as mãos trêmulas que escorregavam devido ao sangue. Estava mudo. Jack sentou-se ao chão e limpou o sangue de uma das mãos em uma folha de papel, ao segurar o papel pode ler ‘ August matroski ’. Não era o nome de um dos acusados do caso Martin? – pensou.

- August Matroski, contas bancárias em muitos países... isso aqui mostra o número de contas bancárias dos crimes de lavagem de dinheiro! – Observou Jack falando em voz alta. Por que uma prova importante dessas está sobre o corpo dela? – Pensou, tentando colocar a cabeça no lugar. Ah meu deus! – Exclamou ao ver seu nome em um dos papéis, uma armação. Contas bancárias com seu nome por todos os lugares possíveis e impossíveis. Era uma armação. - Me desculpe, Sophy... – Disse ao corpo morto da amada. – mas eu sei o que me aguarda após isso. No mínimo seria a pena de morte... Não posso morrer sem saber o desgraçado que te matou e me ferrou dessa forma tão linda.
Jack ainda meio atordoado e com as mãos trêmulas olhou para a janela pensando aonde deveria ir, mas algo mais importante chamou-lhe a atenção: 3 guardas de aspecto forte e imponente seguravam armas e pareciam estar cercando a casa. – O que eu faço?! – Pensou alto.

- Aqueles malditos me comerão vivo em um julgamento, para esses bastardos estou aqui cheio do sangue de uma prostituta que deve ter me chantageado por isso a matei! – Ao sair do campo de visão dos homens da lei, Jack procurou na gaveta e a encontrou: uma pistola calibre 9 mm. Jack que sempre disse a Sophia para se livrar dela, sentiu-se aliviado e agradecido por Sophia não ter obedecido. O advogado sabia que não perguntariam, chegariam atirando. Olhou ao redor da casa pela janela tentando não ser visto. Mais de 5 homens se encontravam lá fora prontos para atirar. Jack verificou a arma, estava carregada. Suas mãos trêmulas seguravam a arma pensando em como sair. Pense Jack! Pense! – pensava desesperado.

- O sótão! – Exclamou. Jack sabia que conseguiria fugir por lá se fosse rápido o bastante para passar pela sala e pela cozinha sem ser notado, o que seria quase impossível julgando pelo barulho da porta da frente sendo arrombada pelos policiais que tomavam conta do local, pelos passos o advogado constatou que não menos de 7 homens adentraram o local tentando parecerem silenciosos.

- Bem... Ao menos não foram silenciosos o bastante. – Falou baixo quase sussurrando para si mesmo.