O advogado correu até a sala sem fazer barulho, mas ao sinal de policiais se jogou por trás do sofá, impedindo que eles o vissem. E agora Jack? E agora? – Pensou enquanto segurava a arma com firmeza.

- Tem certeza que o suspeito está aqui? – Um dos policiais mais jovens perguntou ao mais velho.

- Tenho certeza que sim, advogados são criminosos afinal! – Alguns deles riam enquanto outros, apenas estavam atentos e vasculhavam a cozinha.

Jack olhou a janela que se encontrava atrás dele. Era loucura, mas correr até outro meio de fuga para que o acertassem em cheio era mais loucura ainda. – Pensou. Ele levantou, um dos homens atirou por reflexo, felizmente errando. O advogado segurou agitado o trinco da janela enquanto vários policiais miravam nele.

- Parado! – Mal foram ditas essas palavras pelo mais velho, logo a maioria atirou e Jack não perdeu tempo, deixou de lado o trinco da janela, impulsionou o corpo e atravessou o vidro se cortando, era o preço a pagar pela fuga sem levar uma bala. Escapou dos tiros que pegariam nele se não tivesse feito a loucura, isso doeu pra caramba! Não é como nos filmes. – Pensou enquanto levantava com a mão em um dos cortes que sangrava. A outra mão segurava com firmeza a arma. Suas pernas pareciam se mover sozinhas, Jack correu com os homens bem atrás, foi perseguido até o metrô. A deusa da sorte está do meu lado! – não pôde deixar de sorrir ao constatar que o trem estava alguns passos.

- Não deixem que escape! – um dos policiais disse inutilmente. O recém criminoso pulou como um gato antes da porta fechar na cara dos homens da lei, como se tivessem ensaiado a cena. Essa passou perto – Olhando ao redor, escondeu a arma na cintura. As pessoas o encaravam, mas nada diziam. Jack sentou em um dos poucos lugares vagos e pegou a folha suja de sangue, sabia que iria precisar disso: O endereço de August Matroski , o criminoso mais famoso do caso. – minha sorte não falha hoje! Espero que continue assim. – Olhou para o endereço e viu que ficava perto de uma das estações do metrô.

- Sinto que por você sophy... Posso fazer qualquer coisa. – Murmurou baixinho.

Jack dobrou a folha e esperou, após 40 minutos era a estação desejada. Desceu e olhou para os lados, barra aparentemente limpa. Seria fácil chegar lá, mas e para entrar? E para sair? – eram questões intermináveis na mente do ex-advogado. Tudo que pensou se resumiu logo com um “pensarei em algo”. Caminhou pelas ruas de Londres, mas chamava muito a atenção pelo sangue de sua amada que ainda estava espalhado por suas mãos e camisa.

- Preciso trocar isso. Já que sou um criminoso mesmo... Não fará diferença. – Disse enquanto batia em uma porta. Até onde iria minha cara de pau? – Jack indagou.

- O que você quer? – perguntou um homem mal encarado ao abrir a porta.

- Minha esposa acabou de morrer, eu estou em estado de choque! Poderia me deixar entrar? Preciso limpar o sangue para ver o que faço... e eu... eu... – O rapaz olhou de cima a baixo para Jack.

- Está louco que vou deixar um doido varrido sujo de sangue entrar na minha casa pra tomar um banho, não é? – O homem torceu a cara.

- Eu tentei ser gentil, doido varrido? Não cara... Um criminoso agora – Jack puxou a arma e apontou.

- Po-Pode ir! Não atira, por favor! – Jack entrou como se a casa fosse sua.

- Onde é seu banheiro? – O homem apontou com medo.

- Vire de costas ou vou atirar. -Após o senhor virar, o ex-advogado deu uma pancada forte na cabeça dele com a arma, o forçando a desmaiar.

- Você não vai alegar legítima defesa comigo. – falou para o homem desmaiado.

O quarto ficava ao lado do banheiro, Procurou roupas limpas e que servissem no armário do mal encarado. Só encontrou uma camisa que quase serviu, e uma calça levemente larga, além de um paletó grande e aconchegante. Não teve problemas em encontrar um cinto para que não lhe caíssem as calças. Entrou no chuveiro e limpou o sangue, pensou em Sophia. Agora que não estava em desespero, pela primeira vez chorou. Suas lágrimas pareciam lavar a alma de um sofrimento sufocante e insuportável enquanto o sangue descia pelo ralo.

- Não tenho tempo de chorar por você Sophia, prefiro achar um meio de descobrir quem te matou, vou começar por esse homem! – Falou em voz alta enquanto se vestia. Guardou os poucos pertences no bolso da calça: Algumas Libras na carteira, uma foto de Sophia, documentos e deu lugar especial a inseparável arma. Fechou a casa do homem ainda desmaiado e saiu, jogou as chaves pela janela tentando não ser tão criminoso assim. Ele caminhou algumas quadras e olhou no relógio a hora: 03:20 da madrugada. Conferiu o endereço na folha e a guardou novamente no bolso. A casa era grande e parecia ser bastante antiga, um portão com grades escuras e tinta nova continha um guarda, evitando Jack de se aproximar. Por onde entro nessa joça? – pensou já vendo o muro descascado pela presença de plantas ao redor. – Certo, onde tinha a placa “clichê barato entrar pelo muro não vigiado na casa do bandido?” – Perguntou para si mesmo enquanto seguia o plano e escalava o muro aproveitando as plantas, a escalada fazia doer um pouco seus cortes pelo vidro da janela na casa de Sophia. Não era um muro tão alto, ainda bem – respirou fundo quando chegou ao topo. Jack ficou feliz ao pular de um jeito macio na grama, não foi visto pelo segurança.

Caminhou a passos lerdos sentindo o vento gelado da madrugada, que soprava furiosamente em seu corpo dolorido. – Ela parece muito maior vista do jardim, é quase uma mansão! – exclamou sobre a enorme casa. Aproximou-se de uma janela e olhou para os lados, era a janela mais fácil de entrar, pois além de estar aberta, sua estrutura permitiu a Jack escalar como um macaco, mesmo ferido era bem ágil. A primeira coisa que fez foi ver se não havia ninguém para que pudesse entrar, mas a surpresa ao pular para dentro foi maior que tudo: - Não era uma casa, Jack adentrou algo que parecia um tipo de laboratório onde um cientista louco ficaria feliz: Tubos de ensaio se encontravam espalhados por várias prateleiras e objetos estranhos eram vistos por toda a parte.

- Que lugar é esse? – Perguntou a si mesmo em um misto de surpresa e curiosidade que tomava conta de sua mente e imaginava se não estaria no local errado.

Sua surpresa foi tanta que não viu o homem de jaleco branco entrar por uma porta a sua esquerda, ao ver era tarde de mais: O homem socou um botão vermelho na parede e um alarme começou a tocar.

- Desgraçado! – Jack correu até ele, parecia ser um cientista e ao correr derrubou uma gaiola cheia de ratos brancos e velozes, que livres fugiram como loucos. Impedindo o ex-advogado de alcançá-lo. Jack não desistiu: Pegou vários tubos de ensaio contendo uma substância roxa na maioria dos frascos e em um solitário contendo uma substância verde e de aparência pegajosa. Por leves momentos o recém-criminoso sentiu satisfação em ver os frascos se espatifando em toda a face do fujão que agonizava e tossia como louco.

- Seu imbecil! Você acabou de criar... Uma caixa de pandora você vai... – O homem não terminou o comentário, caiu no chão e começou a se contorcer todo, como se estivesse tendo uma convulsão muito intensa.

- Pelo visto não vou saber onde está seu chefe. – Comentou Jack com ar desanimado enquanto tirava a arma do enorme bolso e mais ou menos 10 guardas o cercavam, entre eles 2 com o mesmo jaleco branco do fujão foram segurar-lhe, tentando parar sua convulsão. Ele parou de se contorcer, sua pele estava branca indicando sua morte. – Menos um! – sorriu Jack por curtos momentos. O fujão surpreendeu, mostrando vida a um dos colegas e o mordeu no braço arrancando um grande pedaço.

- Ele está infectado! Gritou um dos homens. – Jack olhou para a tentadora janela, mas queria encontrar seu alvo antes. Os homens começaram a se morder de modo grotesco e a cada mordida mais convulsões. Logo todos eles cercavam Jack, não como guardas, mas como seres irracionais, ensangüentados pelo sangue um dos outros e pálidos como a própria morte.

- E eu achei que estava difícil entrar. Sumam daqui suas aberrações! – O recém-criminoso começou a atirar sem dó nos seres que babavam e sangravam ao mesmo tempo. Apenas um levou um tiro e caiu, os outros continuaram vindo como bestas infernais a procura de carne.

- Sinto muito, mas esse novo bandido não pretende virar monstrinho! – Jack subiu em uma das mesas do laboratório e correu espalhando materiais químicos por toda a parte. Eles são rápidos como o vento – pensou já desistindo de acertá-los com tiros, ao pular na outra mesa um deles segurou sua perna e puxou, ele caiu com um baque surdo e ficou tonto. 3 mãos o seguravam e pôde sentir a baba de um deles ao seu lado. Seus reflexos não falharam: mesmo tonto Jack rolou para longe dos alucinados seguranças, que o soltaram, mas avançaram em outra investida feroz. Viu a porta a menos de um metro e pulou para fora do laboratório, suas forças quase extintas fecharam a porta de aço, enquanto os monstros se debatiam contra ela.

- Que bom que ficaram burros! – suspirou Jack aliviado ao constatar que não abririam a porta.

Não importava mais nada, nem mesmo monstros ou seguranças drogados o afetariam em seu objetivo, pensou determinado ao caminhar pela casa que não tinha mais indícios de parecer um laboratório.

- August Matroski, cadê você? – Vasculhou de porta em porta, encontrou alguns seguranças pelo caminho e teve que correr para mais uma vez não levar bala.

- Ele está indo para a sala do chefe! – gritou um dos guardas.

- Obrigado pela informação! – Gritou Jack entrando com tudo pela porta de madeira.

August Matroski se encontrava de pé em frente a uma lareira.

- Você veio até aqui só para me matar? Garoto que coragem. E deixe-me completar: isso foi uma tremenda burrice, matem! – Ordenou aos seguranças.

- Espere aí! Não vim te matar, só quero saber quem armou essa zona toda pra mim! – Jack falou esperançoso.

- Ótimo, eu quero ouvir isso... Prossiga.

- Me armaram essa tremenda emboscada e eu quero matar quem fez isso.

- Ah! Você é Jack Thomas! Sou seu fã... Disseram que escapou da polícia hoje a noite. Quem fez essa cilada foi o meu inimigo jurado, e o inimigo do meu inimigo: é meu amigo.

- Seu inimigo? – Olhou Jack desconfiado.

- Sim, as indústrias Matroski tem tido problemas com o promotor John Gray.

- O promotor do caso me queria morto? – Agora fazia sentido, Jack acreditou, pois conhecia o promotor e sabia que realmente ele seria capaz de tal façanha.

- Sim, ele também me quer morto... Está me chantageando para manter as pesquisas do meu laboratório em segredo.

- Não me importo com as monstruosidades que você faz, só quero achar o homem que fez todo esse caos. – Os olhos dele brilharam, estava satisfeito por saber quem matou sua amada.

- Boa sorte rapaz, saia daqui antes que eu mude de idéia quanto a deixá-lo vivo.

- Chefe há um tumulto lá fora! Todos os homens da mansão estão infectados por algo desconhecido, tudo que fazem é matar uns aos outros se mastigando. Tiros não os matam! Estamos ferrados! – gritou o segurança que acabava de chegar ao quarto.

- Como é que é?! - Perguntou o chefe sendo interrompido pela porta se abrindo a força, dúzias de monstros encheram o quarto, os seguranças distraídos, rapidamente são tomados pelo mesmo instinto assassino e sedento por carne e sangue. Todos eles vão grunhindo, até Jack que recua e vê uma janela.

- Lá vamos nós outra vez! Estou me sentindo o “janela man”, o novo anti-herói das janelas. – comentou Jack em mais um de seus pensamentos em voz alta.

O novo anti-herói saiu pela janela e escalou, tentando evitar as mãos pegajosas do que antes foram apenas seguranças e agora eram monstros canibais, ele suspirou ao estar a uma distância razoável do chão e pulou. Para seu azar os monstros pularam, deixando de lado a dor e capacidade de pensar, tudo por aquela fome insaciável de carne humana. Alguns dos monstros não se moveram após a queda, mas a maioria corria velozmente em direção a Jack.

- Merda! – xingou Jack atirando em 1 dos monstros tentando atrasá-lo. Não parou de correr até estar perto do antigo muro, encurralado começou a subir pelas grades do portão e pulou o muro. Os lunáticos, que continuaram tentando perseguir Jack se debatiam no portão com muita força tentando arrebentá-lo. O rapaz não estava nem mesmo na esquina, quando ouviu o barulho pesado de metal caindo ao chão. – os monstros escaparam.

- Sebo nas canelas! – Gritou Jack fugindo novamente algumas quadras em direção ao metrô. Ao chegar na estação vazia, ainda continuava sendo perseguido por 3 incansáveis monstros.

Ouviu ao longe um trem chegando e correu o máximo que pode. Conseguiu entrar por milímetros, mas o paletó confortável do homem que roubara rasgou por ficar preso entre as portas. Jack se curvou tirando o paletó e resmungou: - Antes o palito rasgado que um braço meu ou uma perna. Sentou-se em um lugar vago com muito sono, estava cansado de correr e fugir por hoje. O fugitivo se escorou de um lugar vago a outro e dormiu, teve pesadelos confusos com Sophia e monstros. Ao acordar olhou o relógio, de algum modo sua tela fina e transparente havia trincado, impossibilitando ver as horas com precisão. Amanhecera e parecia cerca de 9 da manhã – Concluiu olhando alguns poucos passageiros do metrô que o olhavam desconfiados, mas como sempre nada diziam. Jack desceu em uma rua calma e andou sem rumo até se lembrar que hoje era o julgamento de seu cliente.

- O promotor vai estar lá, e eu não vou deixá-lo sem a honra da minha presença. – murmurou enquanto andava e chamava um taxi. Pequenas gotas de chuva começaram a cair enquanto Jack entrou no carro.

- Pra onde Sr? – perguntou automático o motorista.

- Sabe o julgamento do caso Martin? – perguntou Jack ansioso.

- Claro! As pessoas estão sempre falando sobre ele... Quer que eu o deixe aonde?

- Onde está acontecendo o julgamento, preciso ver um velho amigo. – sorriu Jack enquanto o motorista obedecia. Em cerca de 20 minutos chegaram ao destino desejado, o fugitivo olhou ao redor e tirou da carteira o resto do pouco dinheiro que possuía, pagando o taxista.

- como entrarei sem ser visto pelos policiais? – Perguntou a si mesmo enquanto uma fina chuva o molhava e observando o local não achava meios de entrar.

- Jack? O que está fazendo aqui? – Lizzie segurou seu braço o assustando.

- Eu fui pego em uma armadilha lizzie, preciso entrar nesse julgamento. – comentou cerrando os dentes.

- Eu coloco você lá dentro, só não faça nenhuma besteira, ok? – Lizzie tirou da bolsa uma sombrinha e segurou o ex-chefe pelo braço o cobrindo com seu paletó para ocultá-lo.

- Deixem-me passar, essa é uma importante testemunha do caso, nada de perguntas! – disse lizzie afastando os jornalistas. Enquanto os guardas a permitiam entrar.

Ao entrar Jack pegou a arma e olhou de perto, oculto pelo paletó da assistente, ainda tinha 3 balas.

- Vocês querem aguardar senhores? – perguntou algo que a Jack pareceu um policial.

- Certo! Vamos esperar... – Jack tirou o palito de cima do rosto, o suficiente para o guarda reconhecê-lo. O fugitivo não perdeu tempo: socou o policial com tudo, sua mão doeu, mas se sentiu aliviado de estar naquele local.

- O que diabos você fez? – Perguntou Lizzie surpresa.

- Eu estou sendo perseguido desde ontem a noite por idiotas e monstros, John Gray fez tudo isso possível.

- O promotor? Monstros...? Thom... Você está bem? Usou drogas? – Lizzie disse com voz doce, o que deixou Jack de péssimo humor.

- Veja o que vou fazer, seja minha advogada depois lizzie... vou precisar de um antes de pegar uma pena ótima. – suspirou o rapaz enquanto ia em direção a porta principal do julgamento, a abriu e todos olharam surpresos para o homem que entrara armado.

- Meu deus, é Jack Thomas! – Exclamou um dos jurados.

- Em carne e fúria... Promotor John, ou vem comigo ou minha arma vai disparar como louca! – falou furioso enquanto John se entregava como refém.

- Você sempre me surpreende. – John falou baixinho.

Algo o surpreendeu mais ainda: Muitos gritos podiam ser escutados lá fora. O que estava acontecendo? – Todos indagaram. Como se respondesse a curiosidade geral, algo esmurrava a porta e grunhia com um lamento de dar medo.

- Não acredito! – Jack exclamou ao ver dezenas de monstros arrombarem a pesada porta de madeira enquanto devoravam a maioria dos guardas lá fora.

- O que está... Acontecendo? – John parecia confuso.

O fugitivo achou que não deveria perder tempo: sabia como aqueles seres eram rápidos e mortais. Soltou John que mal acreditava no que via. Jack correu para os fundos de onde tinha vindo e olhou ao redor, a maioria das pessoas estava agora em convulsão.

- Essas coisas são como zumbis... – murmurou John.

- Eles são exatamente como zumbis. – respondeu o criminoso.

Jack Thomas e John Gray foram os únicos a correr para os fundos, deixando de lado que um queria matar o outro. O ex-advogado ao ver a maioria das pessoas transformadas em zumbis do lado de fora, não pensou duas vezes: começou a subir escalando uma casa perto do local, John o seguiu. Se antes eram inimigos, agora lutavam pela sobrevivência ignorando tudo.

- Que merda! Como essas coisas são rápidas! – xingou Jack entre dentes enquanto escalava lado a lado de John.

- São zumbis! Zumbis sempre são rápidos... – Comentou John enquanto fazia força e chegava ao telhado da casa.

- Espero que eles não aprendam a escalar – Suspirou Jack ao chegar ao telhado em seguida.