- O que tinha sido aquele barulho afinal Kathleen? – Perguntou Jack curioso.

- É mesmo, esqueci de dizer... Cortando o corredor tem muitos, sem brincadeira, mais zumbis que no shopping!

- E cadê eles?! – Perguntou o ex-advogado começando a se preocupar.

- O que os impede de passar é uma máquina de lanches ou refrigerantes, sei lá, derrubaram no corredor. Ao menos não me viram ou iam começar um pandemônio aqui.

- Vamos sair pela porta que entramos? – Jack ficou pensativo.

- Não podemos, John atraiu todos eles para aquele prédio... Não podemos ir a pé.

- Pensaremos em algo Kathleen.

John correu como louco, não conseguia nem mesmo parar para tomar um pouco de ar. O promotor sentia um pavor que o fazia ultrapassar seus próprios limites físicos. – Tudo menos virar um deles! – Pensou. Ao virar uma rua, viu no reflexo do vidro de uma loja abandonada, o número nada pequeno de zumbis. – Eu odeio esses filhos da mãe. – Concluiu, segurando o braço dolorido, John que um dia tinha pensado estar começando a envelhecer, tirou a idéia da cabeça. Conseguiu correr como um maratonista em sua melhor forma, chegou ao prédio com os pulmões doendo. Olhou para os lados sendo cercado pelos famintos e agressivos zumbis. –Onde está o santo clichê agora quando preciso? – Falou irritado enquanto subia em uma árvore ao lado, tentando evitar as mãos pegajosas dos mortos-vivos. Ele subiu sentindo um pouco de dor na perna e notou ter sido arranhado por uma das unhas quebradas de um homem alto e magro, suas unhas mais parecem garras que tudo. – Pensou. – Zumbis poderiam fazer a unha, credo, estou pensando que nem o Jack. – Sorriu ao olhar para os lados e constatar que não tinha meio de sair de lá e entrar no prédio sem levar mordidas. –Agora realmente estou sendo digno de andar com o Jack, sempre situações impossíveis. Que coisa mais chata, e agora como saio daqui? – Pensou olhando para os arredores. O promotor fuçou sua mochila com pena das coisas que carregava, limpou o suor com as costas da mão, tirou um pacote de bolachas bastante esmigalhadas e um pouco de água. Não estava gelada, ao menos servia para comer as bolachas sem engasgar. Olhou para o céu tentando advinhar que horas eram, constatou que deviam ser agora por volta de uma da tarde. O sol parecia quente, mas O promotor imaginou que choveria mais tarde. – Dia lindo para bolar um plano. – imaginou ele olhando o que mais havia na mochila, talvez algo útil? Revirou a bolsa começando a se desesperar enquanto bebia água e pegava uma arma: Seu inseparável rifle. Vasculhando a mochila, viu que tinha para a arma pouca munição. – Eu sei que mereço isso... – Comentou a si mesmo e sorriu se imaginando perto do fim.
- Só sei de uma coisa, poderia ser pior! –John se virou e viu que um pouco distante, um homem falava com ele em cima de outra árvore.

- Quanto... Quanto tempo você está aí? – Perguntou John mais animado de ter alguém para se lamentar.

- Estou aqui a umas 10 horas, sem comida nem mesmo um gole de água. – Falou o homem se endireitando na árvore e tirando algumas folhas do seu campo de visão.

- Eu tenho um pouco de comida aqui e água também, queria poder te entregar! – Falou John com dó.

- Não tenha pena de mim rapaz, meu problema é querer ver o meu neto. –Falou ele suspirando.

-Seu neto? Espere, meu nome é John Gray. – O promotor se apresentou.

- Eu sou Scott Dylan, sem formalidades garoto! Eu preciso ver meu neto, preciso tirar ele desse pesadelo! – Falou o homem.

- Me explique melhor isso. – Falou John tentando puxar um pouco de assunto.

- Meu neto está em casa, ele me ligou quando isso tudo começou. Ele ainda está vivo e eu quero poder ajudá-lo antes que seja tarde, mas antes do que notei tive que subir nessa árvore.

- Como eu imagino. – Falou o promotor desanimado.

-Sim. Precisamos dar o fora daqui, Gray!

- Como? Uns amigos meus viriam me buscar naquele prédio, se não me encontrarem irão continuar sem mim... – Falou ele desanimado.

- Tem certeza que eles vem? – Perguntou Scott desconfiado.

- O Jack... Eu fiz coisas horríveis pra ele, ele nunca viria me ajudar, mas com ele está a Kathleen e ela não o deixaria desistir de mim. – Sorriu ele pensativo.

- Então vamos para aquele prédio. – Falou ele tentando parecer animado.

- Como vamos sair daqui? – Perguntou curioso.

- Eu estou aqui a umas 10 horas e não tive coragem bastante para pular e correr, aí para seu lado não tem nada em que possa escapar, mas aqui tem uma grade de quadra, veja! – Dylan arredou para trás no galho indicando a John uma tela de quadra que ficava atrás dele, uma quadra de tênis. Se conseguissem subir e atravessar a tela, conseguiriam correr pela quadra e chegar até o prédio.

- Eu não quero te deixar aqui garoto, você precisa dar um jeito de chegar em minha árvore. - Falou ele parecendo simpático.

- Acho que se eu pular, consigo cair por aí... Mas não dá tempo de agarrar nada. – Falou ele olhando pra baixo, vendo um zumbi gordo e coberto de sangue esticando os braços tentando alcançar suas pernas sem sucesso pela árvore ser alta.

- Pule então, eu vou te segurar, sei que consegue. – Falou o velho estendendo a mão.

- Tem certeza? – Falou preocupado, olhando para baixo viu zumbis babarem e arranharem o tronco da árvore com as unhas que quebravam e ficava na carne viva.

- Sim, eu tenho mais força do que parece rapaz, como acha que eu consegui subir aqui? Vai por mim, eu consigo te segurar!

- Então pegue antes a minha mochila. –Falou John um pouco incomodado de deixar a mochila cheia de valores para sobrevivência nas mãos de alguém que acabara de conhecer.

- Tem algo que quebre aí dentro? – Scott perguntou olhando para baixo.

- Só alguns biscoitos. – Respondeu sem entender.

-Jogue ultrapassando a grade da quadra, quando chegarmos do outro lado pegamos. Não quero segurar uma mochila pesada e ter que te segurar. – John fez o que Scott tinha sugerido, se certificou de que todas as armas estavam fora de operação a atirou a mochila com dó dos dois pacotes de biscoito que ainda restavam. A mochila ultrapassou a grade e caiu fazendo um grande barulho, os zumbis olharam e correram até a tela sacudindo-a para pegar a mochila, sem sucesso, os mortos-vivos desistiram por ver que a mochila não se movia e voltaram a cercar as duas árvores.

- Dá pra ver que eles não vão dar conta de passar pela grade, ao menos não antes de estarmos no prédio. – John falou e sorriu, se preparando, levantou-se no galho.

- 1...2...3! – John pulou olhando para a árvore, era como ver a vida passando diante de seus olhos em camera lenta, zumbis pareciam eufóricos. - São como lobos famintos vendo sua caça flutuar acima de suas cabeças. – Pensou Scott ao segurar John pelos dois braços e o puxar. O rapaz não perdeu tempo, encostou as pernas em um galho abaixo e deu impulso, o homem realmente não parecia ser tão forte, mesmo assim demonstrou bastante força, conseguindo puxá-lo.

- Uffa, por um momento achei que não íamos conseguir. – Disse John cansado de tanto esforço em um dia só. Sempre fora um rapaz sedentário, não estava acostumado com tal esforço. Seus músculos doiam, mas não tinha tempo para pensar nisso. Precisava correr sem parar.

- Que bom, vamos dar o fora daqui! Está preparado? – Falou Scott demonstrando animação por finalmente ter coragem de descer da árvore.

- Não, mas vamos assim mesmo... Eu corri por uma hora mais ou menos e você está aí por 10 horas, espero que agente chegue lá sem ser problemas.

- Eu também espero, Gray.

-Vamos pular juntos ou alguém vai primeiro? – Perguntou John realmente curioso.

-Vamos ao mesmo tempo. Quem fica atrás tem sempre mais chance de ser morto. Mesmo que eles fiquem mais dornoteados sem saber quem acham mais saboroso.

- Certo, no 3? –Perguntou Gray se preparando, Scott de pé na árvore ao lado de John começou a contagem.

- 1, 2... 3! – Os dois pularam e agarraram a grade, começaram a subir lado a lado sem olhar para baixo. Os zumbis pareciam mais agitados que o costume, se é que isso era possível. Balançavam furiosamente a tela, John evitava olhar para baixo, mas tinha certeza que os mortos-vivos estavam puxando e balançando o metal, fazendo um fio metárico se soltar de outro. Ao balançar o promotor tinha certeza, ficaria enjoado se tivesse comido alguma coisa que não fossem as leves bolachas.

- É como se eles estivessem desamarrando um sapato trançado! – Falou John olhando finalmente para baixo.

- Espero que esse sapato seja um coturno e não um simples Allstar! – Falou Scott sem nem mesmo olhar para baixo.

- E eu espero que não rasguem o Allstar! Eles vão acabar derrubando ou conseguindo desfazer a grade! Que filhos da mãe! – Exclamou o promotor irritado e preocupado enquanto subia.

- Filhos da mãe? Filhos de uma puta manca, com olhos de vidro e careca! – Respondeu Scott quase chegando ao topo da tela metalica. John parou e ficou olhando o velho senhor com um misto de admiração e medo por uns dois segundos, nem mesmo Thomas xingava de tal maneira os zumbis. Após a surpresa, calados continuaram subindo até chegar ao topo. O promotor virou-se na grade e olhou para baixo, pulou desequilibrando por um forte balanço na grade e caiu sentado, já Scott pulou depois dele, caindo em pé.

- Ai! –Gritou John cerrando os dentes.

- Quebrou algo? – Falou Scott enquanto lhe entregava a mochila e tentava ajudá-lo a se levantar.

- Não... Mas eu caí sentado em cima de uma bola de tênis. – John dizia enquanto pegava a mochila com uma das mãos e com a outra retirava uma bola verde que ficara embaixo de seu traseiro. Scott não resistiu: começou a rir sem parar ignorando os zumbis, o homem simplesmente não parava de rir. John não via a menor graça, seu traseiro sentia mais dor agora que seu braço cortado e sua perna arranhada.

- Não tem graça, se fosse uma bola no seu traseiro... Ai, vamos logo antes que esses idiotas derrubem a tela...

- E descubram que seu traseiro foi arrombado por uma bola verde? – Scott completou ainda rindo. Sem forças de tanto rir o homem corria lentamente. John mancava pelo corte na perna e pelo traseiro dolorido, fazendo com que Scott desse cada vez mais gargalhadas. O homem simplesmente parou e começou a chorar de tanto rir quando John escorregou em uma bola verde ensanguentada e deslizou para frente batendo o joelho no muro, se ralando o promotor caiu e gritou:

- Ai! Eu sou meu pior inimigo! Que desgraça! – Scott estava quase se mijando de rir, olhou para trás e viu os zumbis puxando a tela e empurrando, ela não duraria muito – Concluiu.
Mesmo na conclusão, ele não resistiu: Continuou rindo enquanto John se levantava olhando para o chão lotado de bolas de tênis.

- Vamos! – John continuou tentando ser otimista e ignorar o riso constante de Scott. O homem correu parando de rir, mesmo com a barriga dolorida de tanto rir ele conseguia correr, olhava para o chão com cuidado para que John não fosse o próximo a rir dele.

- Cuidado onde pisa, bola da vez! – Falou Scott sorrindo.