Londres - 8:06 PM

John subiu os degraus como se estivesse sendo obrigado. Precisava achar algo útil, mas não sabia o que seria esse 'algo útil' Sempre acreditou muito em seus instintos, agora era hora de segui-los. Andou por alguns minutos após terminar de subir dois andares, suando, cansado por estar sempre fazendo esforço o promotor sorriu ao olhar para a própria arma e ver algo se movendo no escuro. As luzes piscavam e ele não tinha certeza do que via, parecia alguém, mas poderia ser apenas mais um zumbi. Gray resolveu arriscar:

- Quem está aí?! - As palavras de John ecoaram pelo corredor extenso e bastante escuro, a única iluminação vinha da fraca luz que oscilava dando pra enxergar por apenas pequenos momentos, alguns segundos.

- Insetos! - Falou uma voz de criança em meio a escuridão.

- Qual seu nome garoto? - Perguntou o promotor abaixando a arma, forçando um pouco a vista para conseguir acostumar com a escuridão, apenas viu que o garoto tinha cabelo loiro, ou castanho claro, não sabia dizer.

- O inseto! - Repetiu ele mais uma vez.

- Não estou para brincadeiras, vamos lá, diga o seu nome garoto, onde estão seus pais?

- Eles devoraram... Insetos - Disse o menino com voz chorosa.

- Você foi mordido? - Perguntou John preocupado sem saber o que ia fazer com a criança.

- Não... Mas os insetos devoraram... - O garoto começou a chorar e sentou-se no chão.

- Insetos né? Vamos descer. Qual seu nome? Eu sou John. O menino não respondeu a outra pergunta do promotor, olhou para trás parecendo assustado, as pequenas mãos pálidas, tremendo no escuro.

Ruídos estranhos arrepiaram os cabelos na nuca de Gray, pareciam gemidos e urros, misturados a crescentes barulhos desconhecidos, como papel voando e chacoalhando. - O que será isso? - Pensou John querendo que a luz piscasse mais uma vez para ao menos poder enxergar o que tinha no resto do corredor. O garoto pegou algo no chão e correu em direção ao assustado rapaz.

- O que está acontecendo? - Perguntou John preocupado ao ver o menino passar por ele.

- São eles, os insetos! Corre! - Gritou o menino ao mesmo tempo em que mais um pico de luz deixava o lugar visível por alguns segundos. - Eu preferia não saber! - Exclamou John ao ver insetos vermelhos agarrados em zumbis, rasgavam pedaços de pele e pareciam devorar com pequenas presas ágeis e fortes. Os zumbis urravam e lamentavam, abanando os pontos vermelhos lentamente como se fossem moscas. Minha mira melhorou, mas não sou capaz de matar centenas de insetos com tiros! - Pensou ele olhando para a própria arma sem entender bem, apenas seguiu o garoto o vendo virar em um corredor.

- Espera aí seu maluco onde você está indo?! - Gritou ele inconformado enquanto corria no escuro. John tinha a sensação de ter pisado em algo gosmento no caminho, mas nem parou para ficar enojado, entrou por uma porta ainda seguindo o menino.

- Calma aí!

Ao entrar pela porta grossa e de madeira, o menino acendeu uma vela com um fósforo e a colocou em cima de uma cadeira. O quarto era escuro e pequeno, várias coisas estavam espalhadas no chão: Pequenas revistinhas em quadrinhos, livros, pacotes de biscoito vazios, um pouco cheios ou ainda não abertos. Sacos de pão fechados, garrafas de água e duas cadeiras jogadas. Uma mesa parecia ter se transformado em cama pelo menino. Um lençol branco já bastante sujo cobria a pequena mesinha no canto onde havia uma almofada grande. O garoto parecia ter adaptado todo aquele quarto, foi até a porta e a trancou com chave.

- Temos que sair daqui, não é hora de ficarmos encurralados! – John argumentou.

- Papai dizia que eu não podia sair daqui por causa dos comedores de carne, disse que tem muitos lá fora. – Respondeu ele indo até um pacote de biscoitos e mastigando alguns com as mãos derrubando farelos.

- Sim, mas aqui é mais perigoso, seu pai morreu não é? Qual seu nome?

- Meu nome é Michael. – Gray olhou o garoto de cima a baixo, suas pequeninas mãos ainda tremiam de medo, o cabelo loiro parecia muito sujo, já devia estar ali naquele quarto imundo a um bom tempo. Usava roupas brancas e não parecia ter menos de dez anos.

- Vamos sair daqui Michael.

- Mas os comedores de carne... – Que se danem eles! – John interrompeu.

- Vai ficar seguro comigo, Michael. Vamos pegue esses biscoitos e toda comida que você tem e guarde.

- Tem certeza John? – O menino parecia desconfiado.

- Vamos. – O promotor sorriu, demonstrando que ainda tinha um pouco de simpatia para crianças.

Londres - 8:42 PM

- O plano é esse, Kathleen, abre a porta arrebenta os da frente e corre. – Jack falou suando frio.

- Esse é seu plano brilhante? Nossa, deve ter gastado horas para bolar isso em Jack? – A moça sorriu ironicamente, passando a mão pelos cabelos, se preparando.

- Ideia melhor? Vamos lá, eles não pensam! Nós temos essa vantagem, Kathy!

- Como assim? – A moça parecia incomodada.

- Nós pensamos ora bolas! Eles não e... – Você me chamou de Kathy? – Respondeu ela interrompendo o pensamento dele.

- Ah, desculpe, foi bem aleatório. Hmm... – Batidas na porta eram agora constantes, amassando muito a porta do armário. Jack guardou a arma na cintura e pegou a faca, velha amiga e companheira.

- Vai preferir a faca, Jack? E certo, mas acho que você não vai dar conta de correr assim todo quebrado, vai? – Ela perguntou preocupada.

- Tá brincando Kathleen? De zumbis eu corro até sem pernas! – Falou Jack sorrindo. A moça riu um pouco, mas segurava com firmeza o pé de cabra.

- Vamos lá Jack!

- Vou contar até três.

- Ok

- Um... Dois... – Espera! – Kathleen gritou assustando o amigo.

- Ficou louca? Que houve com você?

- O Snow. – Kathleen pegou o gato e o colocou no colo, segurando o pé de cabra com apenas uma mão.

- Podemos ir agora? - Jack falou com a normalidade de alguém que fala que vai apenas a uma reunião boba e não correr de humanos carnívoros, sedentos pelo sangue e vida.

- Vamos! – Ele abriu a porta e saiu distribuindo facadas. Kathleen o seguiu com dificuldade por causa de Snow, que se mexia atento em seus ombros.

Empurraram, socaram, bateram, chutaram, cortaram, abriam caminho tentando não serem mordidos pelos zumbis alucinados, quanto mais Jack abria caminho entre eles, mais achava que estava impossível sair vivo, em uma de suas investidas deu um pulo pequeno, mas que deu para ver o mar de monstros a sua frente.

- Por aqui! – Sinalizou para a moça que acabara de quebrar o nariz de um deles com o pé de cabra.

Os dois correram com dificuldade entre eles, Thomas começou a sentir-se fraco. Andou mais alguns passos e um os mortos vivos segurou-lhe a perna e o mordeu.

- AAAAH! – Gritou Jack parecendo com mais raiva do que dor.

- Jack!! – Kathleen berrou com muita preocupação. – O ex-advogado não se segurou, pegou a faca e cortou a face do zumbi com violência, do olho direito até o lábio, que sangrou intensamente e o zumbi pareceu sentir dor, soltando-o.

Jack e Kathleen agora estavam rodeados por eles, até onde a vista alcançava, a moça podia ver zumbis.

- O que vamos fazer?! – Perguntou Kathleen em desespero, mais pensando alto que querendo perguntar a Jack.

- Além de morrer? Vamos tentar não morrer! – Falou ele socando um dos zumbis com a mão que segurava a faca, lhe proporcionando dor enquanto batia.

- Espero que seu santo clichê ajude agora! – Falou a moça sem saber o que dizer.

- Eu também espero! – Respondeu ele sorrindo.