Rodrigo estava sem camisa e de calça, como gostava de dormir. O rapaz se levantou da cama assustado com algum barulho.

- Nanda? - Chamou baixinho indo até a sala de estar, sentindo os pés esfriarem no chão gelado. Ao ir até a sala, sentiu uma pontada de realidade inevitável: Nanda estava caída no chão, morta. O sangue espalhava-se lentamente pelo piso amadeirado.

- Nanda! - Rodrigo ia se abaixar perto da irmã, mas algo o fez recuar: Dois homens estavam perto do corpo, o mais novo segurava um rifle, o mais velho o observava de cima a baixo com olhos claros e ameaçadores.

- O que está esperando? Mate-o! - Ordenou Spark olhando para o jovem assustado.

Lancelot mirou o rifle, mas a adrenalina de Rodrigo foi mais rápida: Correu em direção a cozinha tentando ignorar o barulho dos tiros. A arma possuia um silenciador, mas isso não impedia o barulho da casa sendo destruída: Madeira se partindo em pedaços, vidro quebrando e espalhando cacos no chão. Rodrigo estava ligado na tomada, amaldiçoou seu vício, afinal se não fumasse teria um fôlego melhor. Para fugir de mais um tiro, pulou para trás do balcão da cozinha.
- Por que isso tudo? Eu devo estar sonhando! Ou melhor, tendo um pesadelo! - Pensou olhando ao redor. No desespero tudo serve! - Concluiu olhando um spray para matar insetos na prateleira onde suas costas antes estavam apoiadas. Procurou um isqueiro e sorriu: Não era tão ruim ser fumante afinal, um pequeno estava por cima do balcão. Com um movimento rápido, com o coração aclerado, Rodrigo colocou a mão por cima, deslizando sobre a primeira prateleira. Ao tocar o pequeno objeto pensou que seu coração não aguentaria, estava batendo rápido demais. Tentou tomar coragem ao ouvir os passos dos dois homens se aproximando, não precisou: A imagem de Fernanda morta estava fervendo em seu sangue. Com um rápido pulo, Rodrigo saiu como um gato veloz de trás de seu esconderijo.

- Atire nele. - Falou Spark rapidamente. Lancelot mirou, mas assustou com o jato comprido de chamas que lhe queimaram a mão, fazendo-o largar o rifle.

- Idiota! - Berrou o mais velho. - Ele está fugindo! - Spark pegou o rifle e mirou pouco antes de Rodrigo alcançar a porta da frente, atirou e teve certeza: Acertara o ombro do rapaz, mas o ombro não era suficiente. O fugitivo assustado viu a janela de Carla aberta, era morrer ou entrar na casa da ex-namorada chiclete e que nunca desistia de reconquistá-lo. O rapaz chegou até a pensar por um momento, mas não tinha tempo. Pulou decidido, odiando a ideia. Caiu por cima da cama de Carla que ficava perto da janela, a moça que estava parada ao lado da porta tomou um enorme susto, mas ao ver Rodrigo apenas sorriu e disse:
- Meu deus! Você me assustou... O que está fazendo aqui? - Perguntou olhando-o de cima a baixo. - Você tá sangrando! - Ela quase gritou, Rodrigo não esperou pensar: Correu até ela, empurrou fazendo com que os dois se abaixassem e tapou-lhe a boca com a mão.

- Estão tentando me matar! shhh! Fica quieta até eles irem embora! - Sussurrou o fugitivo. Carla era geralmente escandalosa, mas agora apenas olhava nos olhos de Rodrigo. Ele não recuava o olhar, era melhor olhar para a moça que para um dos assassinos. Teve suas dúvidas ao tirar a mão da boca dela e vê-la chegando o rosto mais perto. Sem hesitar ela o beijou. O rapaz confuso aceitou o beijo mas logo desistiu, afastou Carla e tentou raciocinar. - Meu deus, nem com eu baleado ela desiste! - Pensou sem saber o que dizer e fazer.
- Desculpa... - Completou ela com lágrimas nos olhos. - O que está acontecendo? - Cochichou desviando o olhar.
- Uns malucos invadiram a minha casa... Nanda está... Morta. - Falou baixinho começando a evitar as lágrimas e pensar o que faria.

Ligar para a polícia? Não. Estava óbvio demais, o mais velho falava inglês, era certamente algo relacionado aos sobreviventes e se eram de alguma organização, a polícia era o de menos para os dois, mas por que não o queriam vivo? - Talvez não quisessem sobreviventes. - Pensou. Precisava falar com aqueles sobreviventes, poderiam saber de algo.
- Preciso ligar para Londres. - Falou baixo, mas sem pensar.
- Londres? - A moça parecia mais confusa que nunca. Carla olhava o ferimento no ombro dele, felizmente a bala havia pegado de raspão, mesmo assim o sangue escorria bastante. Ao vê-la o observando, segurou o ferimento com a própria mão, se sujando cada vez mais de sangue.